Do arco da velha

Eu gostava muito que me explicassem porque é que toda a gente diz que é no coração que guardamos os sentimentos!!! Eu cá quando tou apaixonada não sinto nada no coração...sinto os joelhos a tremer, borboletas no estômago mas no coração não sinto nada. Mesmo quando sofro um desgosto, o coração funciona muito bem mas já o estômago anda todo às voltas e a cabeça doi que se farta!
Se pensarmos bem o coração é um órgão mesmo monótono: passa a vida a receber e a cuspir sangue. A meu ver, aqueles poemas dessa bíblia de casa-de-banho, esteticista e cabeleireira que é a revista Maria tinham muita mais piada se substituissem a palavra coração pela palavra fígado. É que o fígado é um órgão dos diabos, ele tem mil funções e tem mais vidas que um gato.além disso, ele é o verdadeiro sofredordo amor: é ele que sofre com o álcool que bebemos pa esquecer, com os doces que comemos pa compensar, com os comprimidos que mandamos pa atenuar...enfim, um órgão muito mais adequado à cesta de mariquices germinadas na ressaca das relações!
Por isso, para dar o exemplo, vou deixar aqui o primeiro poema ajustado à realidade:

Quando abres os olhos
e não esperas que abra os meus
quando me evitas e me fintas por prazer
e me dizes o que nem sequer sabes
o meu fígado sofre com licores,
flocos de neve e mentos.
Uma bílis desperdiçada,
tão útil na digestão de coiratos.
Por favor, deixa-me conservar
a tua imagem na minha visicula biliar
não queiras destruir
os hepatócitos que ainda restam de ti.